Merece aqui referência um título novo de Ana Luísa Amaral – notável poetisa, ficcionista, ensaísta, que tem cultivado também o livro para a infância, caso do volume objecto desta nota de leitura.
A obra intitula-se Lengalenga de Lena, a Hiena (Edições Zero a Oito, 2019, col. Na minha rua).
Servida pelas dinâmicas ilustrações de Jaime Ferraz, cromaticamente vibrantes mas de bom gosto, a autora constrói uma história divertida e sensível, trilhando os caminhos da metaficção e da metalepse. Centra-se numa hiena, Lena, e noutros animais, como a girafa, mas também em dois bichos oriundos «dos livros», isto é, da esfera (meta)ficcional. No texto, a contadora conversa com outra personagem (presume-se que infantil) e, neste registo dialogal em verso, fantasista e poético, vai tecendo/narrando a história da presença de Lena em sua casa e do regresso do animal à savana.
A temática é cara à autora: a diferença, mas também a saudade das raízes e de um espaço, por assim dizer, materno e livre. Uma bela e divertida obra, em formato de álbum, para leitores iniciais, e que, como sucede com todos os livros infantis de Ana Luísa Amaral, se caracteriza por uma reconhecível qualidade no plano da construção discursiva.
José António Gomes
IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)