domingo, 26 de abril de 2009

O Vento nos Salgueiros, de Kenneth Grahame e E. H. Shepard

Clássico da literatura infantil, O Vento nos Salgueiros é uma obra publicada pela primeira vez em 1908 e que, desde então, tem conhecido edições e traduções sucessivas em diferentes línguas. Alvo de várias adaptações, incluindo para desenhos animados, cuja série passou, com assinalável sucesso, em Portugal há algumas décadas, o texto original, nesta bela edição da Tinta-da-China, mantém toda a qualidade original, permitindo aos leitores portugueses (re)descobrir as extraordinárias aventuras vividas por vários amigos, todos animais, na margem aprazível e bucólica de um rio inglês. As diferentes personalidades das antropomorfizadas personagens – senhor Toupeira, senhor Rato, senhor Texugo e senhor Sapo – recriam a diversidade da alma humana, permitindo perceber como a amizade, a cumplicidade e o respeito se sobrepõem às diferentes idiossincrasias. O pitoresco de alguns episódios e o detalhe com que são narrados criam um sugestivo visualismo. A paisagem campestre e os seus distintos matizes ao longo das várias estações do ano, pormenorizadamente descritas, servem de pano de fundo a um conjunto de narrativas que põem à prova as personagens, as suas crenças e valores, a sua coragem e altruísmo, criando laços afectivos cada vez mais fortes entre elas. O discurso também reflecte os cambiantes da intriga, ora enérgico e dinâmico, ora cómico e irónico, ora lírico e descritivo, prendendo os leitores à narrativa. Acompanhado por ilustrações muito simples e expressivas, da autoria de E. H. Shepard, o mesmo criador das imagens de Winnie-the-Pooh, de A. A. Milne, explorando os múltiplos efeitos do sinal textura, o livro vê potenciada a sua dimensão alegórica, funcionando como uma obra que, apesar de preferencialmente destinada a crianças, tem qualidades para agradar a todos.

Ficha bibliográfica

O Vento nos Salgueiros, texto Kenneth Grahame e ilustrações de E. H. Shepard, tradução de Júlio Henriques, Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2007, ISBN: 978-972-8955-26-7

Ana Margarida Ramos

Universidade de Aveiro | membro associado do NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)

domingo, 5 de abril de 2009

Novo número de Malasartes (o 17, de Abril de 2009) já disponível

Encontra-se já nos escaparates o novo número de Malasartes – Cadernos de Literatura para a Infância e a Juventude. O editorial sumaria o fundamental do que este número tem a oferecer.

Os chamados novos temas e os géneros emergentes (pelo menos na produção literária e editorial portuguesa para crianças) constituem um dos aspectos em realce neste novo número de Malasartes. Entre, por um lado, as questões da multiculturalidade, da defesa do património natural e da homossexualidade (vejam-se as análises do último livro de Manuela Bacelar e, na secção de recensões, da obra Titiritesa, de Xerardo Quintiá e Maurizio A. C. Quarello) e, por outra parte, os novos álbuns portugueses da Planeta Tangerina, há todo um percurso de leitura a fazer neste número que, esperamos, proporcione aos mediadores de leitura uma reflexão pertinente e oportuna sobre os caminhos mais recentes da literatura para a infância.

Uma literatura que quase nunca vive sem a ilustração. Daí que artigos como os dedicados à «customización de ilustracións» (uma interessante análise e, em simultâneo, uma sugestão de trabalho para mediadores, incluídas na secção Práticas) e às já mencionadas produções da Planeta Tangerina e de Manuela Bacelar venham sublinhar o relevo crescente de que se reveste esta dimensão do livro infantil, bem como a necessidade de pensar seriamente o desenvolvimento da literacia visual nos mais jovens.

Os novos autores e ilustradores de literatura infantil em língua portuguesa (Rita Taborda Duarte, Odjaki, Luís Henriques) e um clássico contemporâneo da literatura infantil e juvenil galega (António García Teijeiro, poeta e ficcionista que já era tempo de ver traduzido para português) merecem também destaque neste número.

E, como não é possível entender o presente sem conhecer a tradição e revisitar caminhos antes trilhados, incluem-se também dois artigos de particular interesse na secção Referências. Por um lado, o dedicado aos 20 anos da colecção galega «Merlín» – que abriu portas a tantos autores e ilustradores que hoje se contam entre os mais influentes da literatura infantil e juvenil galega, além de ter editado escritores portugueses, como António Torrado, Manuel António Pina e Álvaro Magalhães. Por outro lado, registe-se o artigo centrado no Tesouro Poético da Infância, uma das primeiras antologias portuguesas de poesia destinada à infância que se publicaram em Portugal, ainda no século XIX.

As habituais secções de recensões críticas de livros infantis e juvenis em português e em galego e outras matérias de interesse completam este décimo sétimo número da Malasartes. Assim se mantém vivo um dos principais propósitos da revista: fazer chegar a estudiosos e a mediadores de leitura informação e análises actuais sobre a produção literária preferencialmente destinada aos mais jovens.