Clássico da literatura infantil, O Vento nos Salgueiros é uma obra publicada pela primeira vez em 1908 e que, desde então, tem conhecido edições e traduções sucessivas em diferentes línguas. Alvo de várias adaptações, incluindo para desenhos animados, cuja série passou, com assinalável sucesso, em Portugal há algumas décadas, o texto original, nesta bela edição da Tinta-da-China, mantém toda a qualidade original, permitindo aos leitores portugueses (re)descobrir as extraordinárias aventuras vividas por vários amigos, todos animais, na margem aprazível e bucólica de um rio inglês. As diferentes personalidades das antropomorfizadas personagens – senhor Toupeira, senhor Rato, senhor Texugo e senhor Sapo – recriam a diversidade da alma humana, permitindo perceber como a amizade, a cumplicidade e o respeito se sobrepõem às diferentes idiossincrasias. O pitoresco de alguns episódios e o detalhe com que são narrados criam um sugestivo visualismo. A paisagem campestre e os seus distintos matizes ao longo das várias estações do ano, pormenorizadamente descritas, servem de pano de fundo a um conjunto de narrativas que põem à prova as personagens, as suas crenças e valores, a sua coragem e altruísmo, criando laços afectivos cada vez mais fortes entre elas. O discurso também reflecte os cambiantes da intriga, ora enérgico e dinâmico, ora cómico e irónico, ora lírico e descritivo, prendendo os leitores à narrativa. Acompanhado por ilustrações muito simples e expressivas, da autoria de E. H. Shepard, o mesmo criador das imagens de Winnie-the-Pooh, de A. A. Milne, explorando os múltiplos efeitos do sinal textura, o livro vê potenciada a sua dimensão alegórica, funcionando como uma obra que, apesar de preferencialmente destinada a crianças, tem qualidades para agradar a todos.
Ficha bibliográfica
Ana Margarida Ramos
Universidade de Aveiro | membro associado do NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)