sábado, 4 de dezembro de 2021

A Senhora Prestável, de Augusto Baptista e Emelie Ostergren


Contista, inventor de frases-enigma de recorte poético e humorístico, autor de livros Tangram, capista e cartoonista, além de fotógrafo, Augusto Baptista averba, na relação das suas obras, um livro de cunho infanto-juvenil editado pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e pelo Centro Hospitalar de São João, em 2017: O Lobo Mau no Hospital, concepção gráfica de João Bicker (FBA) e ilustrações de Z.L. Darocha (1945 - 2016). Trata-se de uma narrativa que desconstrói o esquema de «O Capuchinho Vermelho» (Perrault, Grimm…), readaptando a história ao universo hospitalar dos mais novos.

O escritor regressa, em Dezembro de 2021, a este domínio, mas com uma obra que talvez seja mais de fronteira, isto é, de recepção transgeracional. A edição é da Xerefé e trata-se de um belo objecto para uma prenda natalícia.


Apoiada pelas imagens de Emelie Ostergren, que divergem dos gostos dominantes em matéria de ilustração em Portugal – mas que inegavelmente se distinguem pelo humor –, a curta narrativa escrita por Augusto Baptista é um pequeno prodígio de graça. Dispensa mensagens subliminares ou outras para apostar apenas (e já não é pouco) na criação de personagens cómicas e de episódios de cariz surrealizante, em que a dimensão hiperbólica e caricatural das situações é rainha. O «negócio» de A Senhora Prestável é mesmo fazer rir, e consegue-o de modo exemplar, naquela prosa de recorte saboroso a que já nos habituou Baptista, mestre do conto breve e do microconto. Uma história bem divertida, capaz de atrair tanto miúdos como graúdos.  


José António Gomes

IEL-C Núcleo de Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto