Ilustração de Florence Mason para o livro Holidays & Happy Days, de H. Hendry, 1901 |
O Cavaleiro da Dinamarca (1964), de Sophia de Mello Breyner Andresen, é já
um clássico da nossa literatura para os mais jovens. Está lá tudo: a grande
viagem probatória, um cavaleiro impoluto, a aventura, o perigo e o heroísmo; o
amor e a arte; a tensão entre a visão teocêntrica e a visão antropocêntrica – e
algumas das matrizes culturais da Europa exemplarmente narrativizadas. Pelo
meio, a Dinamarca, Veneza, Florença, a Flandres, a Terra Santa…; Cimabué,
Giotto, Dante e os descobridores portugueses. Actualizando, a cada momento, o
mito do contador de histórias, um livro que é, também, uma vertiginosa viagem
pelas narrativas da grande tradição cultural europeia e um comovente tributo ao
espírito do Natal. O talento de contar aliado a uma sedutora prosa poética, de
prosódia inconfundível. Não faltam, por aí, edições mais antigas (as da
Figueirinhas, por exemplo) ou mais recentes (a da Porto Editora) deste livro
exemplar: basta procurá-las.
Quanto a Histórias Tradicionais Portuguesas Contadas
de Novo, de António Torrado, com ilustrações de Maria João Lopes
(Civilização, 2002), direi que eram nove os contos populares portugueses que o
autor tinha dispersos por outros tantos livros e que, aqui, surgem reunidos num
só volume de grande formato e com novas ilustrações. Para perfazer as dez,
Torrado acrescenta-lhes «Maria Rosa e os sete veados barbudos», variante do
conhecido «Os sete corvos» dos Grimm. Lido o conjunto, pode-se dizer que poucos
têm sido capazes de recontar estas velhas histórias com tanto humor e tão
apurado sentido de preservação do oral ao nível da escrita. Outro clássico.
Por último, O Menino Nicolau, O Menino Nicolau e os seus Amigos e As Brincadeiras do Menino Nicolau (Teorema, col. Sésamo), de Sempé
e Goscinny. A pedagogia, os rankings,
as malditas «lideranças», eu sei lá o que mais de rastos. Professores, alunos,
funcionários e encarregados de educação como personagens de uma anedota
interminável. Uma poética da irrisão que não seria o que é sem o humor único
dos desenhos de Sempé. Ideal para uma catarse em tempo de pausa lectiva (que se
aproxima).
José António Gomes
IEL-C (Investigação em Estudos Literários e Culturais (antigo NELA) da Escola Superior
de Educação do Porto