segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cinco obras para um Natal: cinco livros para ler ou ouvir ler e não apenas para ver

Ilustração de Florence Mason para o livro Holidays & Happy Days, de H. Hendry, 1901
O Cavaleiro da Dinamarca (1964), de Sophia de Mello Breyner Andresen, é já um clássico da nossa literatura para os mais jovens. Está lá tudo: a grande viagem probatória, um cavaleiro impoluto, a aventura, o perigo e o heroísmo; o amor e a arte; a tensão entre a visão teocêntrica e a visão antropocêntrica – e algumas das matrizes culturais da Europa exemplarmente narrativizadas. Pelo meio, a Dinamarca, Veneza, Florença, a Flandres, a Terra Santa…; Cimabué, Giotto, Dante e os descobridores portugueses. Actualizando, a cada momento, o mito do contador de histórias, um livro que é, também, uma vertiginosa viagem pelas narrativas da grande tradição cultural europeia e um comovente tributo ao espírito do Natal. O talento de contar aliado a uma sedutora prosa poética, de prosódia inconfundível. Não faltam, por aí, edições mais antigas (as da Figueirinhas, por exemplo) ou mais recentes (a da Porto Editora) deste livro exemplar: basta procurá-las.
Quanto a Histórias Tradicionais Portuguesas Contadas de Novo, de António Torrado, com ilustrações de Maria João Lopes (Civilização, 2002), direi que eram nove os contos populares portugueses que o autor tinha dispersos por outros tantos livros e que, aqui, surgem reunidos num só volume de grande formato e com novas ilustrações. Para perfazer as dez, Torrado acrescenta-lhes «Maria Rosa e os sete veados barbudos», variante do conhecido «Os sete corvos» dos Grimm. Lido o conjunto, pode-se dizer que poucos têm sido capazes de recontar estas velhas histórias com tanto humor e tão apurado sentido de preservação do oral ao nível da escrita. Outro clássico.
Por último, O Menino Nicolau, O Menino Nicolau e os seus Amigos e As Brincadeiras do Menino Nicolau (Teorema, col. Sésamo), de Sempé e Goscinny. A pedagogia, os rankings, as malditas «lideranças», eu sei lá o que mais de rastos. Professores, alunos, funcionários e encarregados de educação como personagens de uma anedota interminável. Uma poética da irrisão que não seria o que é sem o humor único dos desenhos de Sempé. Ideal para uma catarse em tempo de pausa lectiva (que se aproxima).


José António Gomes
IEL-C (Investigação em Estudos Literários e Culturais (antigo NELA) da Escola Superior de Educação do Porto