Quem se preocupa com a infância, com o seu bem-estar, com a educação e a cultura – e este sítio é sobre a literatura da infância – não pode ficar indiferente a números tão cruéis: 40% das crianças portuguesas vivem em situação de pobreza!
Deram nisto trinta e tal anos de mau governo dos três partidos que gostam de se auto-designar como os do “arco da governação” e a que nós preferimos chamar os do “arco da desgovernação”.
Aproximam-se eleições (mais umas) e os portugueses são chamados a votar. Votar nos mesmos ou nos seus sósias, para tudo se manter igual ao que tem sido ou ficar pior ainda? Para Dupond suceder a Dupont e 40% das crianças portuguesas continuarem a viver em situação de pobreza?
E que tem a literatura a ver com isto? Tudo, é claro.
Vale a pena, a propósito, citar estes dois textos, intencionalmente quase sem metáforas, encontrados num livro de Ana Roiz:
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Razões eleitorais que a razão desconhece
Que os ricos - a minoria -
votem naqueles que defendem seus interesses
é coisa que se compreende.
São ricos, não é?
Que os outros - a maioria -
votem contra si mesmos
(continuando, nos ombros, com o peso
dos que vivem do trabalho alheio
e da moral na ponta da língua)
está para lá de toda a compreensão.
Será que a maioria vota
pelo direito à diferença,
essa estranha diferença que é a liberdade de explorar
e de gerar maiorias de pobres
que elegem os representantes dos ricos?
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Adivinha
Mal a lebre se levanta,
qual é a primeira frase, qual é ela,
que o corrupto dirige aos jornalistas?
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.Ana Roiz. Derrocada do Parnaso. Serpa: Edições Meridionais, 1990, pp. 12 e 24.