A atenção de Malasartes está longe de se cingir ao eixo Galiza-Portugal e, por isso, na revista, colaboram articulistas do Brasil, poderão vir a colaborar autores de outras latitudes, além do que as matérias publicadas incidem, não raro, em obras estrangeiras, traduzidas ou não (neste número prestes a sair, inauguram-se, por exemplo, as abordagens à banda desenhada de recepção juvenil e adulta com um ensaio de Miguel Ramalhete Gomes). Contudo, o eixo mencionado começa a funcionar a níveis mais profundos. Pela primeira vez, é possível ler, no número 18, uma parelha autoral luso-galaica: Ana Margarida Ramos e Marta Neira Rodríguez propõem-nos uma leitura da obra da galega Paula Carballeira, contadora bem conhecida em Portugal e já com vários títulos traduzidos para a língua portuguesa. Ana Vasconcelos, por seu turno, escreve sobre o escritor galego Agustín Fernández Paz (que, uma vez mais, merece destaque na revista, em dois artigos) e confronta uma das suas obras com o primeiro livro do português David Machado.
Dir-se-á, no entanto, que uma temática de grande actualidade atravessa este novo número – questão, diga-se de passagem, para a qual os mediadores da leitura não se encontram ainda suficientemente sensibilizados. Referimo-nos à análise da ilustração e, consequentemente, ao problema do desenvolvimento da literacia visual, tão necessário como o desenvolvimento da literacia verbal e como a própria educação literária. Razões mais do que suficientes para a leitura de um trabalho centrado num picture story book só com imagens, de Bernardo Carvalho (importante ilustrador português da actualidade), estudo esse elaborado por outra jovem ilustradora e estudiosa da ilustração: Gabriela Sotto Mayor. A questão da leitura da imagem está, no entanto, presente noutros artigos, como o que Sara Reis da Silva e Miriam Reis dedicam a um conjunto de obras infantis de referência, da autoria de Maria Keil e Maria Isabel César Anjo, ou como a recensão crítica de um recente livro de Xosé Ballesteros e Juan Vidaurre que nos é proposta por José Maria Mesías Lema.
Também um dos perfis é desta vez dedicado a um dos mais relevantes ilustradores galegos dos dias de hoje, Xosé Cobas. O outro dá a conhecer, um pouco melhor, a escrita e a personalidade da portuguesa Violeta Figueiredo, cujos livros se destacam pela sua singularidade, por um estilo muito pessoal e por uma notável criatividade linguística a que não falta o sentido da comunicabilidade com os seus destinatários preferenciais, os mais jovens.
Nas secções Estudos (com um artigo sobre Álvaro Magalhães), Referências (em que se destaca a importante colecção juvenil galega «Fóra de Xogo») e Práticas, encontrarão os leitores outras matérias de interesse a que se juntam as habituais recensões críticas de obras publicadas em português e em língua galega.
Motivos de sobra, pensamos, para uma leitura proveitosa por parte dos mediadores da leitura e dos estudiosos e investigadores, ou seja, o público preferencial de Malasartes.
José António Gomes
NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)