segunda-feira, 14 de junho de 2021

António, Como se Faz Cor-de-Laranja?

António Torrado foi-se embora hoje. Mas o seu pajem continua a não se calar. As hastes do seu veado continuam a florir (ou não fosse ele o veado da liberdade). A sua vassourinha continua a varrer as coisas chatas e velhas (no sentido peçonhento desta palavra) e a varrer, claro está, todos os ditadores. E o seu macaco aspirante a leitor, do Jardim Zoológico em Casa, e os seus bichos jogadores de futebol, do Elefante Não Entra na Jogada, e os seus Emilinho e Anacleto (co-inventados com a Maria Alberta) continuam a fazer-nos rir, rir, rir... O António é a graça feita palavra, é a parole conteuse por excelência, é o melhor contador de histórias orais e escritas que me foi dado conhecer pessoalmente. Ele, que teve como mestres Perrault, Andersen e Oscar Wilde, foi e continuará a ser mestre de muitos. Porque se tornou um verdadeiro artista da Palavra-Que-Conta-e-Encanta e que assim se converte em poesia. 

Solidário, fraterno, genuinamente interessado nos outros e não apenas em si próprio, o António é mestre doutra arte: a de fazer amigos. E por isso, hoje, os seus amigos (tantos são) choram. Porque sabem que, a esta hora, já ele está a brincar e a dizer piadas na companhia da Maria Alberta e da Matilde – a quem, por brincadeira, chamava às vezes paraninfa; e a querida Matilde ria, ria, ria...

Ai que dor, António. Que saudade já. Diz-me, António, diz-me como se faz cor-de-laranja.

 

11-6-2021

 

João Pedro Mésseder