O número 21-22 de Malasartes é duplo e, com ele, procura-se preencher os espaços dos números de abril e de outubro. Razões relacionadas com apoios ao financiamento da revista, com a circunstância de ela não poder contar ainda com número suficiente de assinantes e com o facto de alguns não renovarem as assinaturas – não raro por esquecimento – fazem com que os dias de uma publicação deste género nem sempre sejam fáceis e obrigam a momentos de balanço e de relançamento com novas propostas. A estas dificuldades juntam-se, é claro, os efeitos da crise, sobre cujas consequências na vida de todos nós, e em particular na atividade cultural, não vale a pena aqui dissertar, por serem por de mais conhecidas.
Além das numerosas matérias de interesse que ocupam este número – diferente na forma e nos conteúdos – e que vão da homenagem que se quis prestar a Matilde Rosa Araújo (personalidade inesquecível da nossa literatura para a infância que, em 2010, nos deixou) à questão do álbum, passando pela narrativa juvenil e os seus (novos) temas, pela presença do haiku na poesia para crianças, pelas recriações do conto popular, pela chamada literatura de fronteira, pela atenção a obras clássicas e referenciais – a que importa sempre regressar –, Malasartes apresenta novidades que merecem realce, a par dos habituais artigos de reflexão sobre práticas de promoção da leitura (que, neste número, são dois). Entre os autores abordados neste número da revista, contam-se, além de Matilde Rosa Araújo, Adolfo Coelho e Eça de Queirós, José Gomes Ferreira, Ana Saldanha, Maria Teresa Maia González, Carla Maia de Almeida, Carlos Casares, Ana María Fernández, Antón Cortizas, Gloria Sánchez, Carlos Mosteiro, Martin Waddell, Helen Oxenbury, John Burningham e muitos outros, aos quais se junta a voz do editor espanhol Alejandro García Schnetzer, em entrevista.
Pela primeira vez, apresenta-se uma panorâmica de uma literatura escrita em idioma minoritário – a língua basca – que importa conhecer, divulgar, traduzir. Recorde-se aqui que um dos poucos exemplos de obras desta literatura traduzidas para português é o conhecido Memórias duma Vaca (Lisboa: Terramar, 1999), do grande escritor contemporâneo Bernardo Atxaga. É altura de regressar a este livro e de descobrir outros nomes e outras experiências no quadro de uma produção que se tem internacionalizado aos poucos e cuja vitalidade é notória, tanto na escrita como na ilustração.
Outro aspecto novo é a circunstância de, aos artigos e recensões escritos em galego e em português (variantes portuguesa e brasileira), se juntar agora alguma colaboração escrita em castelhano – o que significa maior internacionalização da revista e reforço da sua vertente multicultural e plurilinguística.
Registe-se, por último, o apoio a Malasartes por parte da CEU – Escuela Universitaria de Magisterio, prestigiada instituição de formação de professores de Vigo, sustentáculo relevante que honra a revista e o seu projecto. Um projeto que tem, justamente, nos professores do Ensino Básico, nos educadores de infância e nos estudantes destas áreas do saber um dos seus públicos privilegiados.
A terminar, um apelo: mais do que nunca, Malasartes necessita de divulgação, de cativar assinantes que ajudem a superar dificuldades de percurso, de conquistar leitores para a causa da crítica e do estudo da literatura para crianças e jovens. Na esperança de que em especial bibliotecas públicas, bibliotecas escolares e universitárias, editoras e outras instituições de mediação possam encontrar nesta revista um meio de informação útil e uma ferramenta de intervenção imprescindível, e de qualidade, para o trabalho de promoção da leitura que desenvolvem.