sexta-feira, 9 de junho de 2023

O Segredo da Felicidade, de Luísa Ducla Soares, ilustrado por Cátia Vidinhas


 

Encontramo-nos em Maio de 2023 e O Segredo da Felicidade (Livros Horizonte), de Luísa Ducla Soares, ilustrado por Cátia Vidinhas, está acabadinho de sair. Trata-se de nova edição, com novas imagens, dum livro inicialmente editado em 2012 pela Civilização.


Divertidíssimo e inteligente, inspirando-se no universo do conto popular de exemplo, O Segredo da Felicidade está sempre, porém, a trocar as voltas ao leitor. Quando chega ao final de uma sequência e a uma previsível moral – aqui muita vez traduzida num provérbio – o contador surpreende e declara (eis apenas um exemplo): «Haviam de achar que os pobrezinhos, mesmo sem nada, podem ser felizes. Mas eu não concordo com esse fim e os criados também não.» (p. 14). E vai de avançar para nova sequência, novo rumo da acção que concluirá de maneira semelhante.


Do que gosto neste livro? Gosto do facto de ele ser pouco convencional e de ser, como disse, divertido. Gosto do facto de partilhar provérbios e de pôr o leitor a reflectir sobre eles criticamente e de forma lúdica. Gosto do facto de estimular o inconformismo crítico. Gosto da circunstância de constituir uma pequena mas rica homenagem aos poderes da imaginação e ao património literário oral tradicional, e ainda de explorar certa dimensão metatextual, o que o torna um livrinho que respira modernidade. E gosto também do facto de se colocar ao lado dos mais fracos e apelar a uma governação pelo menos sensata. Ou não fosse a autora Luísa Ducla Soares, aqui bem acolitada por Cátia Vidinhas, com ilustrações coloridas, animadas e elas próprias bem-dispostas, em consonância com o texto que iluminam. 


Às vezes penso: daqui a uns bons anos, quando uns grandes e premiados romancistas e poetas deste nosso tempo, ditos para adultos, já estiverem todos mortos, enterrados e esquecidos, ainda os contos frescos e engraçados, imaginativos e bem contados de Luísa Ducla Soares hão-de andar por aí a alegrar e a fazer pensar, como se tivessem acabado de vir ao mundo. 


Luísa Ducla Soares só não é a rainha da nossa literatura para a infância porque calha ser republicana. Chamemos-lhe por isso: a presidente da república dos nossos contos infantis. Que maravilha haver criadores assim.

 


José António Gomes

 

IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto